quarta-feira, 17 de maio de 2017

Get me away from here, I'm dying

Don't come closer, or I'll have to go
Holding me like gravity are places that pull
If ever there was someone to keep me at home, 
It wouldn't be you

Everyone I come across in cages they bought
They think of me and my wandering
But I'm never what they tought
I've got my indignation
But I'm pure in all my thoughts
I'm alive

Aquela sensação de estar no meio do oceano a quilômetros de casa em plena segunda-feira, às duas horas da tarde. Ouvindo sua própria respiração e inundando os olhos de raios solares perdidos entre falésias. Sentindo cheiro de maresia.
Aquela mesma sensação de estar num barco ancorado no meio do nada, onde tudo é azul e o céu se confunde com as águas. À sua volta, onde quer que você olhe, só é possível ver mar e gaivotas no alto. O sol esquentando a pele e o sal libertando a alma. 
O mergulho.
O fundo do mar.
O fundo do âmago.
A minha essência.
A respiração debaixo d'água, como se tivesse guelras, como se possuísse escamas. 
Eu realmente acredito que em algum momento comecei a evoluir, houve um tempo em que cada vez mais era difícil sair do mar, e quanto mais eu ia, mais eu ficava e menos de mim voltava.
Acontece que eu voltei pra terra firme e meu coração ficou no mar.
Eu nunca mais voltei pra casa e meu coração ficou pra trás, onde eu devia estar. 
Eu abandonei o meu lar e carrego um corpo vazio, vagante. Como quem perde o rumo de casa e permanece errante, sem nunca encontrá-lo.
A verdade é que a âncora nunca me prendeu. Sempre me libertou.
Me afastei do meu barco a vela, meu leme parou.
Meu sol escureceu.
O céu borrou a cor.
Consider me a satellite forever orbiting.
Eu preciso me sentir livre novamente.
Eu preciso sentir meu coração bater.
Preciso sentir que estou viva.
Leave it to me as I find a way to be...

terça-feira, 16 de maio de 2017

Aluga-se-vende (sujeito a mudanças)

Acordei quando a luz roxa do mouse transparente tomava conta do quarto inteiro e fez questão de perturbar minha vista. Fiquei um tempo só ouvindo o zumbido do ventilador velho ligado. E suando de tanto calor naquela maldita noite de verão orquestrada por mosquitos insaciáveis. 3:54 am. Que saco. Esse cheiro de cigarro impregnado nos lençóis e a vontade de fumar. A porra da loja de conveniência não vende cigarros porque o Seu Zé é muito religioso. Acredita que esses dias fui lá no desespero comprar camisinha de madrugada e também não tinha? Que loja de conveniência mais inconveniente! Religioso, veja só... Aquele bigode amarelado não me engana. É tudo pose. Porque na hora de escorraçar o moleque faminto da sua soleira ele não rezou nem Pai Nosso tampouco Ave Maria pra pedir perdão.
E eu fui comprar camisinha por que, mesmo? Ah! Lembrei! Porque a dona-moça que trabalha de caixa por lá vivia me esnobando e eu queria mostrar que também podia ser feliz sem aquele par de pernas junto das minhas de madrugada. Perdi meu tempo. Ela havia pedido as contas dois dias antes porque estava grávida. "Porra, seu Zé!" pensei. Você acha que essa história cola? Não se esconde atrás do terço não porque eu sei que foi você quem rechaçou a dona-moça daí. Porque é religioso demais pra aceitar sexo antes do casamento. Dane-se. Ela nem era tão bonita assim. Só tinha as pernas bonitas. Mais nada. Agora vai ter um caíco pra carregar na barra das saias até ter varizes. Serão tantas que nem as pernas salvarão mais. "Porra, seu Zé!" pensei de novo. "Se o pai fosse eu, pagava o tratamento escleroterápico.”
Agora eu tô aqui suando, coçando, insone, sem banho, sem cigarro, sem chá de capim-limão e sem a china do seu Zé. Que merda. Acabei de lembrar que amanhã é o último dia pra pagar o aluguel desse quarto-e-sala abafado pro seu Teixeira, senão serei despejado. Ontem chegou outra carta de cobrança. Sei que é dele porque já é a quarta esse mês. Até que não seria tão mal assim ser despejado. Os bancos da José de Alencar ali no Catete são bem localizados na sombra do final de tarde e aí corre uma brisa formidável. Nem tenho tanta coisa pra levar mesmo. Só uns trapos velhos rasgados e umas velharias em forma de prosa. E o milho dos pombos. Porque um qualquer abandonado num banco de praça sem seus pombos não tem classe. "Porra, se o pai fosse eu, não pagava nem o aluguel."

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Lampeão de Caatinga

Laço-de-fita sou Maria Bonita,
Fita-de-laço, a rainha do cangaço
Nessa história de cordel, vou amarrar poesia de cetim
Que é pra ver se eu me lembro
Do que restou de mim